quinta-feira

Detonador

Detonador

  Chegou em casa, cansada e nervosa. O tedioso trabalho lhe cansara o corpo e a mente, mas hoje era pior.
  Após a briga, ela não conseguira pensar em mais nada além da discussão e dos fatos que a acarretaram. Mesmo no trabalho, fora várias vezes cobrada pelo patrão, por desatenção.
Em sua mão, o celular. Ela não o soltava por nem um segundo, mentindo para si mesma que queria ver as horas. Mas queria outra coisa. Queria uma mensagem. Queria uma ligação. Necessitava de algo que a fizesse saber que a confusão que se sucedera tinha se resolvido, se dissipado. Nada. E o tempo não passava.
  Em sua cama, desmonta-se, exausta e arrependida.
  Ela sabia, entretanto, que tudo que passara poderia ser facilmente consertado com uma única ligação, de celular para celular, provavelmente, que não custaria nada em comparação ao peso que levava na consciência. Mas era severa, não poderia voltar atrás. Poderia ser taxada como fraca e de fácil persuasão.
  No sonho, ela vê toda a cena que se sucedera, novamente, mas em terceira pessoa. Ela, fora da cena, julgando tudo aquilo estúpido, tinha em suas mãos um detonador, como o de uma bomba. E ela sabia que tudo aquilo que se ela via poderia acabar, se ela apertasse o botão verde do detonador. Relutante, pois não abandonava a ideia de que era ela quem tinha a razão, permanecia a resistir. Repentinamente, o detonador começou a tremer a tocar uma melodia familiar.
  Acorda, assustada, e ainda sentindo algo tremer em tua mão e tocar aquela melodia, que tinha esperado tocar o dia inteiro.
  Ainda meio trêmula, aperta o verde.
  Refaz-se do susto instantâneamente: precisava aparentar sobriedade e normalidade falando.
  - Alô?! - diz uma voz, no outro lado.
  - Oi, quem é? - diz a mulher, ainda sentido que o celular era um detonador.
  - É do hospital, peço para que venha aqui o mais rápido possível. O doutor saberá explicar melhor... é sobre...
  Mas a voz parou, surda. A ligação fora encerrada por suas mãos, que só sabiam procurar as chaves do carro.
  Ela se deixou abater pelos sentimentos e a guerra acabou. A bomba explodiu.


Diego Leocádio

Um comentário:

  1. Saber aquelas notícias ruins sobre alguém importante a nós sempre causa um desespero incontrolável. Mais parentado a uma bomba mesmo. Gostei do texto.

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