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O mendigo e a rosa murcha - 23 de julho de 2011

 O mendigo e a rosa murcha

  Embaixo da ponte vive um homem. Ou melhor, sobrevive. Seu colchão são os jornais molhados que achou e seu travesseiro, seu braço. Protege-se do frio em uma caixa de papelão quase destruído e veste as mesmas roupas há muito tempo. Na verdade, ele diz ser muito tempo, mas nem mesmo o sabe, pois o tempo para ele não tem mais valor.
  Certo dia, ao acordar, cansado, viu uma imagem que encantou-lhe os olhos. Em toda aquela bagunça de tons cinza da grande cidade existe um pequena rosa. Ele, percebendo a rosa por seu tom vermelho ofuscante, aos seus olhos, teve certeza de esta ser a coisa mais bela que ele viu em toda a sua parca vida.
  Ele pegou a pequena rosa que estava começando a murchar, a coloca em uma caneca com água. Talvez a rosa tivesse mais água em seu redor do que o que o corpo do homem necessitava.
  Ficou ali, a olhá-la, não se sabe por quanto tempo. A rosa foi murchando e escurecendo. Mas continuava perfeita aos olhares do homem.
  Depois de uns dias, a rosa já estava toda acabada. Mas o homem ainda a achava a maior beleza do mundo.
  Mas, devido à falta de caridade das pessoas, ele necessitava arrumar algo para comer. Então ele teve a ideia, que lhe doeu na alma, de vender aquela obra de arte da natureza que havia encontrado.
  Prostou-se a procurar um lugar onde se interessassem por flores e chegou a uma floricultura.
  Lá, embora todas as outra flores ainda estivessem refletindo sua luz vívida, a única flor que ele achava bonita era aquela que ele tinha em mãos, a murchinha.
  Oferecendo a flor ao floriculturista, disse que era a mais bela flor que ele já tinha visto. Estendeu a mão ao outro e disse que, em troca de tanta beleza, só pedia algo para comer e beber, pois estava muito mal. O outro homem, rindo-se dele, disse-lhe para abrir os olhos, pois aquela flor estava murcha e feia.
  O pedinte sentiu muita tristeza ao perceber que era verdade, que a flor estava suja, murcha e morta. Com uma tristeza profunda, deixou o estabelecimento cheio das flores coloridas e chamativas.
  Ao chegar na ponte, deitou-se e dormiu. Esquecera a flor ao seu lado, fora da caneca. Quando se levantou, percebeu que a flor tinha se despedaçado com o vento e esvoaçado suas pétalas. Pegou o caule dessa, colocou embaixo de seus jornais e a guarda até hoje, como lembrança da imagem mais perfeita que ele já viu.

  A beleza e a perfeição diferem de pessoa para pessoa, então é errado criar um padrão do que é belo, ou então dizer que nada é perfeito.


Diego Leocádio

Um comentário:

  1. Nuss... mt Bom Diego. AGORA SÓ FALTA VC COLOCAR ISSO NA SUA VIDA NEH E PARAR D ACHAR-SE FEIO ;)

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