domingo

Crônica do ciúme - 12 de junho de 2011

  
Crônica do ciúme

  Saiu do trabalho desabalado, mas o trânsito não o ajudou a chegar em casa no horário desejado. Arrumou-se como se sua vida dependesse do visual. Finalmente domingo! Saiu.
  Ele já estava atrasado vinte minutos. Com aquele sentimento de quem devia ter demorado menos em casa. Mas havia combinado há duas semanas e não queria perder este momento.
  Lá chegando, ele relanceia o relógio e percebe que o ponteiro menor já deixara de ser generoso com ele. Uma hora atrasado. Olhou através dos vidros do ônibus e viu-a, sentada sorridente à mesa do restaurante. Espera aí, sorridente? Sim, e acompanhada. Mas pensava que ia ser um encontro romântico, à dois. Tudo marcar como importante a data 12 de junho.
  Ele sai do ônibus, atônito. Será que ela desistiu de esperar e chamou outro alguém para acompanhá-la? Mas foram tão bons os momentos juntos... será que trocaria assim, por uma hora de atraso. Devia ter vindo direto do trabalho. E agora? O que fazer? Ainda no ponto de ônibus, seguia ver os dois sem ser percebido. E percebia que estavam bem risonhos e íntimos. Ele está segurando em suas mãos! Seria isso possível? E aqueles bombons? Numa fração de segundo, a vontade era de ir lá e acabar com a felicidade dos dois, e expressar sua decepção. Mas, como homem temperado que era, decidiu voltar para casa, e lidar sozinho com sua frustração. A rosa, que carregava desde que saíra de casa, estava agora no chão, prestes a ser pisada por um senhor com uma maleta, apressado.
  Em casa, depois de desenterrar aquele velho whisky que não bebia desde a morte do pai, deitou-se no sofá e afundou-se no ego. Goles depois, ouviu o telefone. Era ela. Provavelmente feliz, lá, no restaurante. Aquele pensamento o deixou ainda mais sedento, fazendo com que os goles ficassem maiores e o álcool fizesse menos ardência na garganta. Goles depois, tudo estava em um eterno vácuo, sentimental e real, como as lágrimas afogadas.
  Na secretária eletrônica, uma mensagem que dizia:
 - Fiquei te esperando até agora, escureceu e acho que você não vem mais. Tinha uma surpresa para você. Já que íamos namorar, trouxe meu irmão para conhecer você, já que é a única família que tenho. A impressão dele não ficou muito boa sobre ti. Espero que estejas bem... e que o motivo por não ter vindo seja bem convincente. Te amo.

Um comentário:

  1. adorei, é muito profundo e tocante. vc nasceu para ser escritor. vc conseguiu com que eu me envolvesse com a historia, ficando aflita com o resultado final. parabens vc sabe o q quer transmitir.

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